A melhor ferramenta para desarmar o discurso desesperado de Serra, nesse episódio da Receita Federal, é ler com calma uma declaração do próprio candidato, durante evento nessa quarta-feira, em São Paulo:
“A candidatura da Dilma está querendo fazer comigo a mesma coisa que o Collor fez com o Lula em 1989, quando o Collor ganhou eleição, pelo receio de que nós ganhemos a eleição”.
Faz algum sentido? Claro que não. Serra tem hoje, segundo levantamento do IG/Band/Vox, menos da metade das intenções de voto de Dilma. O PT estaria desesperado para conter o avanço de Serra? Só na cabeça do candidato tucano.
Em 89, às vésperas do segundo turno, Lula subia nas pesquisas, estava a menos de 5 pontos de Collor. O ataque de Collor a Lula – utilizando depoimento escabroso da mãe de Lurian e ex-namorada de Lula – foi um ato desesperado. E deu resultado.
Agora, quem está desesperado é Serra, não Dilma.
Ouros fatos chamam atenção. Vamos a eles.
1) O vazamento de dados sigilosos precisa mesmo ser investigado, é fato grave, mostra a fragilidade do sistema da Receita. Negar esse dado da realidade, em nome da defesa da candidatura de Dilma, é negar-se a ver a realidade.
2) O contador que levou a procuração (falsificada) até a delegacia da Receita em Santo André tem amplo histórico de falcatruas. Chama a atenção que diga: “Voto no Serra, sou eleitor dele”.
3) Por hora, não há qualquer indício de que o PT tenha atuado para obter os dados de Verônica. Cá entre nós: se existe o tal “Estado policial” a que se referem os tucanos, para que ir até uma delegacia da Receita e levantar o sigilo fiscal da filha de Serra? Bastaria ao malvado diretor da Receita obter os dados, que são registrados em computadores e podem ser acessados de Brasília, por exemplo. Pra que ir até o ABC paulista , e deixar tudo registrado (como registrado ficou, convenientemente, para a campanha tucana)?
4) Quem são os petistas envolvidos nisso? Como associar Dilma e sua campanha? A quebra de sigilo ocorreu ano passado, quando nem havia campanha. Se houver gente do partido de Dilma envolvida, deve haver punição a quem praticou a ilegalidade – como a qualquer outro cidadão. É óbvio. Mas isso tudo não faz sentido: que vantagem teria Dilma em quebrar sigilo numa eleição praticamente ganha?
5) O sigilo fiscal foi quebrado em setembro de 2009. De novo, convenientemente, só veio à tona um ano depois, às vésperas da eleição, num momento em que Serra despenca nas pesquisas, contrata um guru indiano, muda slogan e tenta relançar a campanha. Detalhe: a primeira informação sobre o episódio saiu na “Folha” – amiga do peito dos tucanos. O “escândalo” tem toda a pinta de um factóide lançado na mesma esteira da “renovação” da campanha serrista, agora nas mãos do tal guru.
6) O “Painel” da “Folha” dá hoje uma nota que é quase uma confissão da tática tucana: “Os tucanos garantem que os episódios de violação de sigilo não param nos já investigados“. Ou seja, outros factóides virão por aí, os tucanos já sabem, a “Folha” já sabe. Virão a conta-gotas, conforme interesar possam à candidatura de Serra.
7) É evidente a diferença de tratamento para o caso nos diferentes portais da internet. Acabo de conferir: UOL (do grupo “Folha”) mantém a história na manchete principal (com um viés politizante, que interessa à campanha de Serra); Terra e IG tratam do tema com mais cuidado, abrindo o leque para todas as possbilidades; o G-1 (da Globo), supreendentemente também é cuidadoso, e trazia na quinta-feira (2 de setembro) pela manhã manchete sobre o crescimento da produção industrial no Brasil.
O que isso tudo quer dizer?
A “Folha” é a mais desesperada e a mais serrista. Na Globo, a turma de Ratzinger deve estar à espera das pesquisas. Se sentirem que o episódio tem alguma chance de ajudar Serra, entrarão no jogo dos tucanos, com matérias diárias no “JN”, durante um mês. Se o indício for de que Serra está mesmo perdido (como tudo indica), a Globo deve tirar o pé, e acompanhar o caso com mais parcimônia. Deixará ao “O Globo” a tarefa de bater pesado (os leitores tucanos do jornal, na zona sul do Rio, querem ver sangue).
Em 2006, a família Marinho e Ratzinger farejaram que o caso dos “aloprados” podia garantir segundo turno. E partiram pra cima de Lula. Eu trabalhava na Globo, e vi tudo de perto. Farão o mesmo agora? Saberemos em breve…
Vale lembrar que o caso da Receita, ainda que não consiga reverter a tendência pró-Dilma, talvez tenha força para conter parte da onda vermelha que se avoluma em todo Brasil. Serra ainda pensa em ganhar a eleição. “Folha”, UOL e as viúvas de FHC, a essa altura, querem evitar que o lulismo ganhe também em São Paulo e faça uma bancada muito forte no Senado. Vão jogar tudo nisso agora.
Por último, queria lembrar que há um mês escrevi aqui sobre o excesso de confiança de alguns eleitores de Dilma. Lembrei do passado de Serra, do desespero de um candidato que, derrotado, perderá Brasil e São Paulo (Alckmin, se ganhar, não dará moleza para o serrismo); um candidato capaz de qualquer coisa. Os alidos dele – no Jardim Botânico, na Barão de Limeira e às margens fétidas da marginal – também são capazes de qualquer coisa.
Desprezar o adversário é um erro grave. E a volúpia com que eles avançam nessa caso – pra lá de esquisito, com dados de um ano atrás, e relançado às vésperas da eleição – mostra que não há limites nessa guerra.
Serra não tem pudores de usar nessa guerra a própria filha – sócia da família de Daniel Dantas, é bom lembrar. Na verdade, é Serra que se parece com Collor na estratégia despudorada de usar a família em campanha.
Estratégia, além de tudo, golpista. O tucano, primeiro foi aos militares falar em República Sindicalista. E o PSDB agora pede a cassação de Dilma. Com qual indício? Não precisa. Eles querem sangue. Estão desesperados.
Numa entrevista recente, fui perguntado sobre a possibilidade de golpe no Brasil, como em 64. Expliquei que as coisas mudaram, e que golpe, se houver, será na linha hondurenha: com apoio da Justiça e aparência de legalidade.
É para esse caminho que se dirigem agora os desajuizados tucanos paulistas. Terão sucesso? Tudo indica que não. Mas a atitude mostra como será tratada Dilma num provável governo.
Lula terá que entrar em campo, com cada vez mais força.
por Rodrigo Vianna
“A candidatura da Dilma está querendo fazer comigo a mesma coisa que o Collor fez com o Lula em 1989, quando o Collor ganhou eleição, pelo receio de que nós ganhemos a eleição”.
Faz algum sentido? Claro que não. Serra tem hoje, segundo levantamento do IG/Band/Vox, menos da metade das intenções de voto de Dilma. O PT estaria desesperado para conter o avanço de Serra? Só na cabeça do candidato tucano.
Em 89, às vésperas do segundo turno, Lula subia nas pesquisas, estava a menos de 5 pontos de Collor. O ataque de Collor a Lula – utilizando depoimento escabroso da mãe de Lurian e ex-namorada de Lula – foi um ato desesperado. E deu resultado.
Agora, quem está desesperado é Serra, não Dilma.
Ouros fatos chamam atenção. Vamos a eles.
1) O vazamento de dados sigilosos precisa mesmo ser investigado, é fato grave, mostra a fragilidade do sistema da Receita. Negar esse dado da realidade, em nome da defesa da candidatura de Dilma, é negar-se a ver a realidade.
2) O contador que levou a procuração (falsificada) até a delegacia da Receita em Santo André tem amplo histórico de falcatruas. Chama a atenção que diga: “Voto no Serra, sou eleitor dele”.
3) Por hora, não há qualquer indício de que o PT tenha atuado para obter os dados de Verônica. Cá entre nós: se existe o tal “Estado policial” a que se referem os tucanos, para que ir até uma delegacia da Receita e levantar o sigilo fiscal da filha de Serra? Bastaria ao malvado diretor da Receita obter os dados, que são registrados em computadores e podem ser acessados de Brasília, por exemplo. Pra que ir até o ABC paulista , e deixar tudo registrado (como registrado ficou, convenientemente, para a campanha tucana)?
4) Quem são os petistas envolvidos nisso? Como associar Dilma e sua campanha? A quebra de sigilo ocorreu ano passado, quando nem havia campanha. Se houver gente do partido de Dilma envolvida, deve haver punição a quem praticou a ilegalidade – como a qualquer outro cidadão. É óbvio. Mas isso tudo não faz sentido: que vantagem teria Dilma em quebrar sigilo numa eleição praticamente ganha?
5) O sigilo fiscal foi quebrado em setembro de 2009. De novo, convenientemente, só veio à tona um ano depois, às vésperas da eleição, num momento em que Serra despenca nas pesquisas, contrata um guru indiano, muda slogan e tenta relançar a campanha. Detalhe: a primeira informação sobre o episódio saiu na “Folha” – amiga do peito dos tucanos. O “escândalo” tem toda a pinta de um factóide lançado na mesma esteira da “renovação” da campanha serrista, agora nas mãos do tal guru.
6) O “Painel” da “Folha” dá hoje uma nota que é quase uma confissão da tática tucana: “Os tucanos garantem que os episódios de violação de sigilo não param nos já investigados“. Ou seja, outros factóides virão por aí, os tucanos já sabem, a “Folha” já sabe. Virão a conta-gotas, conforme interesar possam à candidatura de Serra.
7) É evidente a diferença de tratamento para o caso nos diferentes portais da internet. Acabo de conferir: UOL (do grupo “Folha”) mantém a história na manchete principal (com um viés politizante, que interessa à campanha de Serra); Terra e IG tratam do tema com mais cuidado, abrindo o leque para todas as possbilidades; o G-1 (da Globo), supreendentemente também é cuidadoso, e trazia na quinta-feira (2 de setembro) pela manhã manchete sobre o crescimento da produção industrial no Brasil.
O que isso tudo quer dizer?
A “Folha” é a mais desesperada e a mais serrista. Na Globo, a turma de Ratzinger deve estar à espera das pesquisas. Se sentirem que o episódio tem alguma chance de ajudar Serra, entrarão no jogo dos tucanos, com matérias diárias no “JN”, durante um mês. Se o indício for de que Serra está mesmo perdido (como tudo indica), a Globo deve tirar o pé, e acompanhar o caso com mais parcimônia. Deixará ao “O Globo” a tarefa de bater pesado (os leitores tucanos do jornal, na zona sul do Rio, querem ver sangue).
Em 2006, a família Marinho e Ratzinger farejaram que o caso dos “aloprados” podia garantir segundo turno. E partiram pra cima de Lula. Eu trabalhava na Globo, e vi tudo de perto. Farão o mesmo agora? Saberemos em breve…
Vale lembrar que o caso da Receita, ainda que não consiga reverter a tendência pró-Dilma, talvez tenha força para conter parte da onda vermelha que se avoluma em todo Brasil. Serra ainda pensa em ganhar a eleição. “Folha”, UOL e as viúvas de FHC, a essa altura, querem evitar que o lulismo ganhe também em São Paulo e faça uma bancada muito forte no Senado. Vão jogar tudo nisso agora.
Por último, queria lembrar que há um mês escrevi aqui sobre o excesso de confiança de alguns eleitores de Dilma. Lembrei do passado de Serra, do desespero de um candidato que, derrotado, perderá Brasil e São Paulo (Alckmin, se ganhar, não dará moleza para o serrismo); um candidato capaz de qualquer coisa. Os alidos dele – no Jardim Botânico, na Barão de Limeira e às margens fétidas da marginal – também são capazes de qualquer coisa.
Desprezar o adversário é um erro grave. E a volúpia com que eles avançam nessa caso – pra lá de esquisito, com dados de um ano atrás, e relançado às vésperas da eleição – mostra que não há limites nessa guerra.
Serra não tem pudores de usar nessa guerra a própria filha – sócia da família de Daniel Dantas, é bom lembrar. Na verdade, é Serra que se parece com Collor na estratégia despudorada de usar a família em campanha.
Estratégia, além de tudo, golpista. O tucano, primeiro foi aos militares falar em República Sindicalista. E o PSDB agora pede a cassação de Dilma. Com qual indício? Não precisa. Eles querem sangue. Estão desesperados.
Numa entrevista recente, fui perguntado sobre a possibilidade de golpe no Brasil, como em 64. Expliquei que as coisas mudaram, e que golpe, se houver, será na linha hondurenha: com apoio da Justiça e aparência de legalidade.
É para esse caminho que se dirigem agora os desajuizados tucanos paulistas. Terão sucesso? Tudo indica que não. Mas a atitude mostra como será tratada Dilma num provável governo.
Lula terá que entrar em campo, com cada vez mais força.
por Rodrigo Vianna
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